sexta-feira, junho 04, 2010

QUIDAM - Cirque du Soleil em POA // 3

Continuando a SAGA QUIDAM....olha que lindo o texto que a Letícia Wierzchowski escreveu!!!


Éramos duas crianças no Quidam


Quando eu era pequena, íamos muito ao circo. Meu pai levava a mim e minhas duas irmãs às funções de sábado à noite. Do tanto que fizemos juntos, esses antigos passeios estão guardados num lugar especial da minha memória. Eram pequenas companhias, circos que se anunciavam russos, feitos com artistas nascidos no interior do Brasil, leões artríticos e engolidores de fogo com cara de quem sofria de problemas gástricos; mas, ainda assim, entrar naquele mundo misterioso e mágico era entrar numa outra dimensão. Ainda posso me lembrar da minha extrema felicidade lá no meio da plateia, quando as luzes se acendiam no picadeiro e o espetáculo estava ribombando seus primeiros acordes…

Difícil mesmo é dimensionar o que sentiu meu filho de 8 anos ainda na outra noite, quando assistimos juntos a Quidam, o espetáculo que o Cirque du Soleil acaba de trazer a Porto Alegre. Se eu mesma vibrava de alegria e pasmo diante das meninas chinesas com seus diabolos, e suspirava de medo pelas acrobatas da pirâmide humana, o que dizer do menino sentadinho ao meu lado? Seu espanto, sua emoção, o tamanho dos seus olhos luzidios cravados naquele picadeiro de maravilhas, e até o seu medo nos números mais eletrizantes…

Posso dizer aqui que a cadeira 1 da fila A abrigou, naquela noite de sexta-feira, um menino em puro êxtase, passeando por um mundo onde a realidade é magicamente transfigurada pelas mãos de artistas que não são de todo humanos - e creio que nem levam ossos sob suas rígidas carnes, tal a leveza e a elasticidade dos seus voláteis movimentos, seus saltos nunca no vazio, seus giros fantásticos, suas piruetas impressionantes. No picadeiro, Quidam traz a magia, a solidão e o mistério de uma grande cidade, com seus passeantes solitários, apressados, apaixonados, seus homens de negócios ocupados demais. Eles descem do céu e saem dos bueiros, eles voam sobre nossas cabeças e cortam as nuvens que pairam sob a lona colorida. Eles causam encanto, medo e pasmo, enquanto traçam com movimentos de sonho um espetáculo pictórico, visual e sensorial tão delicado que as palavras quase não alcançam. Fica-nos a impressão de que não existem limites para os artistas do Cirque du Soleil no seu inacreditável picadeiro de maravilhas. Os ohs e ahs da platéia se sucedem formando uma trilha sonora à parte: a música do nosso sempre renovado espanto. E eu, que tinha pensado em olhar o circo pelos olhos do meu menino, agora estou aqui, tão fascinada quanto ele, pinçando palavras com as quais traduzir o meu próprio encanto, diante da certeza de que, naquela plateia, por obra e mágica da troupe do Cirque du Soleil, não havia uma mãe e seu filho, mas duas crianças mesmas, ambas enfeitiçadas pelo milenar espetáculo do picadeiro. Como é que dizem mesmo? Senhoras e senhores: com vocês, o maior show da Terra!


Leticia Wierzchowski

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